Ai....
Este fim de semana cruzei-me com um amigo de infância.
Grande conversa, abraços, perguntas e respostas, umas cervejas e recordações...foi bom, à muito que não o via , infelizmente a ele e a muitos outros!
De volta a casa, muitas e muitas histórias saltaram à cabeça de um percurso e de uma altura que nos marcou a todos. Eramos muitos no "meu bairro", hoje em dia já não há estas coisas de malta na rua, sempre juntos para todo o lado, a crescer em conjunto..hoje é mais a malta do colégio e dos jogos de "playstation", com a malta fechada em casa por causa dos "marginais..isto está tão mau...",...bah!
Estava eu a fazer zapping em direcção de um canal de desporto para ver mais um joguito da bola(sim, sou fanático por futebol que querem..) e passo por um canal "das gajas"... e lá estava uma loiraça a ganhar a vida a bailoçar aquilo que deus e um cirugião plástico lhe deram...boa!
Mas de repente, por causa da conversa com o meu amigo, deixei de ver, pois viajei para longe, muito longe..muitos anos atrás, quando vi pela primeira vez uma mulher nua, de carne e osso...
Hoje em dia, tudo é muito fácil, tem-se acesso a canais "temáticos", as revistas de mulheres como vieram ao mundo devidamente acompanhadas de senhores com enormes "acessórios" vendem-se em qualquel respeitável papelaria, a net não tem barreiras, enfim, tudo é fácil e a malta jovem de hoje começa a documentar-se muito cedo...é o progresso!
Mas a malta da altura não tinha nada disso, lá ia havendo umas coisas, mas nada que se comparasse...
Eu tive como companhia de infância malta sempre mais velha, sempre fui o "puto", tem vantagens, tem desvantagens, enfim..um das vantagens é que, sendo a malta toda de 16/17 e eu de 12, bem, os gostos deles estavam mais adiantados e nestas idades, a malta está na fase das descobertas...e lá ia eu.
Na altura, videos pornográficos havia já no videoclube mas ninguém nos alugava, eramos putos....revistas? Nada nas papelarias, talvez em alguns alfarrabistas perto da Praça do Comércio e mais, tarde, após rigorosa pesquisa, descobrimos que na feira da ladra também havia alguns exemplares....se calhar era falta de jeito nossa, pois sempre houve mas...a malta não achava.
Um dia cinzento de inverso (pedir o mês já é muito..), uma alminha ilmuninada entre nós descobriu, não sei como, que havia um estabelecimento manhoso, com gajas a dançar...nuas!!!
Extase entre a malta!!!
Paraíso, dizia ele, entra-se, vai-se para uma espécie de cabinas, poê-se umas moedas de 25 escudos e voilá, janela aberta e uma gaja a dançar...
Foi a primeira vez que ouvi falar do Bar 25....
O Bar 25..local de pecado nas rua das Portas de St.Antão, em Lisboa. A rua de Lisboa que mais adoro desde míudo. Versão oficial, tem a tasca que melhores febras e bifinhos do lombo serve com superbock, versão censurada, a rua onde vi uma mulher nua pela primeira vez....
É uma rua que só por si só, sem esta história privada de meia dúzia de míudos, vale papel e papel de histórias nele escritas. É a rua do Coliseu, é a rua do extinto cinema Politeama, distinto cinema reduzido, anos depois, a sala de projecção de filmes porno (assim como o Ódeon logo ao lado, onde muitas vezes fui com o meu pai ver filmes de "caubois"- nota do distinto narrador, sempre preferi os índios-), recuperado pelo Filile la Féria para as suas peças, a rua da Casa do Alentejo, linda, linda linda....a rua do restaurante "finesse" Gambrinus, onde 1/10 de um bife custa o preço da vaca toda, a rua da sede do meu Benfica, a Sociedade Portuguesa de Antropologia, rua do Mings Burguer, a casa onde se vendeu em Lisboa pela primeira vez hamburgueres como nós hoje os conhecemos, enfim.....a Rua da Portas de S.Antão!
Aí estava também o Bar 25, onde hoje está (acho, não tenha certeza...) uma cervejaria.
Hoje em dia, o sítio de que falo é algo de, vá lá, banal...tantos sítos de shows de strip e tal, mas é preciso retroceder aos anos que falo e à idade que tinhamos. Aquilo era uma loucura para a malta que ( como era o meu caso, mal pelos ainda tinha...).
O Bar 25 era um sítio à boa maneira antiga, onde, na minha opinião, ao contrário de hoje, até as coisas meio sórdidas tinham classe. Tinha uma tabacaria logo à entrada e depois um mar de cores vermelhas e contrastes claros e escuros até ao centro, onde estavam as cabines, pelo menos se não me falha muito a memória...
Esta descrição foi o resultado lógico de dias e dias de observação do exterior, pois, como é lógico, a malta não podia entrar....e nesses dias víamos entrar tanta malta distinta e bem composta. Jogadores da bola, malta com cara de político, empresários e claro, as senhoras do show...
Tinhhamos de arranjar maneira de entrar e o plano foi o seguinte: entre as 15h/16h30, o movimento era pouco e era nessa altura o momento ideal..fomos 6! O Humberto, o mais velho, coitado, enorme, parecia que tinha 20 e tal, burro que nem um calhau, sempre pensamos que ia estragar tudo. Ele devia ir comprar cigarros na tabacaria e nós passar por baixo quando a senhora virasse as costas....Além do Humberto, foi o Vitor "Maiden", por que na altura o que estava a dar eram os Iron Maiden e ele era o maior fã...o Strom (o jorge...), doido pelo benfica e pelo dinamarques que jogava no benfica, Stromberg..o Jorge "jó-jó penetra", o gajo que mais se infiltrava nas festas de anos para ver se arranajva lanche sem pagar e o Felipe "engomadinho", o gajo que aos 16 ja andava de camisinha e sapato para impressionar as miudas...
E assim foi, quando o Humberto pedia os marlboros ou o camel (era tabacaria fina, na altura só havia sg gigante e afins...) a malta entrou e correu que nem doidos para dentro de uma cabine..o Humberto, ainda menor mas com um cabedal que impunha respeito, tinha de certeza mais de 18, trocou dinheiro, as famosas moedas de 25 e la foi para a cabine onde a malta ria que nem uns perdidos....
e as moedas entraram..e a cortina abriu...e lá no fundo...lá estava ela!
e a malta riu, e a malta calou-se, e a malta voltou a rir...e ela dançava!
e a roupa foi caindo e a malta foi-se calando....e ela dançava!
e eu não ouvi mais nada, só vi aquela mulher loira, de cabelo curto, de corpo esbelto a dançar com roupas transparentes que caiam ao sabor dos seus movimentos que pareciam em câmara lenta.....
e as moedas acabaram, e a cortina fechou-se e o silêncio imperou.....
e a malta saiu a correr e aos berros, como guerreiros de palmo e meio que tinham conseguido uma vitória sobre um terrível inimigo, a rir, rir, perante o olhar de pânico de quem lá estava....tinhamos conseguido ver aquilo que toda a gente falava, uma mulher nua, nós, ...os putos!
e fomos para casa a pensar nela, e fomos crescendo, e este sempre foi um troféu de uns míudos que não sabiam no que se estavam a meter.....mas que importou?
ela dançava....!