segunda-feira, janeiro 24, 2005

E ela dançava....



Ai....

Este fim de semana cruzei-me com um amigo de infância.

Grande conversa, abraços, perguntas e respostas, umas cervejas e recordações...foi bom, à muito que não o via , infelizmente a ele e a muitos outros!

De volta a casa, muitas e muitas histórias saltaram à cabeça de um percurso e de uma altura que nos marcou a todos. Eramos muitos no "meu bairro", hoje em dia já não há estas coisas de malta na rua, sempre juntos para todo o lado, a crescer em conjunto..hoje é mais a malta do colégio e dos jogos de "playstation", com a malta fechada em casa por causa dos "marginais..isto está tão mau...",...bah!

Estava eu a fazer zapping em direcção de um canal de desporto para ver mais um joguito da bola(sim, sou fanático por futebol que querem..) e passo por um canal "das gajas"... e lá estava uma loiraça a ganhar a vida a bailoçar aquilo que deus e um cirugião plástico lhe deram...boa!

Mas de repente, por causa da conversa com o meu amigo, deixei de ver, pois viajei para longe, muito longe..muitos anos atrás, quando vi pela primeira vez uma mulher nua, de carne e osso...

Hoje em dia, tudo é muito fácil, tem-se acesso a canais "temáticos", as revistas de mulheres como vieram ao mundo devidamente acompanhadas de senhores com enormes "acessórios" vendem-se em qualquel respeitável papelaria, a net não tem barreiras, enfim, tudo é fácil e a malta jovem de hoje começa a documentar-se muito cedo...é o progresso!

Mas a malta da altura não tinha nada disso, lá ia havendo umas coisas, mas nada que se comparasse...
Eu tive como companhia de infância malta sempre mais velha, sempre fui o "puto", tem vantagens, tem desvantagens, enfim..um das vantagens é que, sendo a malta toda de 16/17 e eu de 12, bem, os gostos deles estavam mais adiantados e nestas idades, a malta está na fase das descobertas...e lá ia eu.

Na altura, videos pornográficos havia já no videoclube mas ninguém nos alugava, eramos putos....revistas? Nada nas papelarias, talvez em alguns alfarrabistas perto da Praça do Comércio e mais, tarde, após rigorosa pesquisa, descobrimos que na feira da ladra também havia alguns exemplares....se calhar era falta de jeito nossa, pois sempre houve mas...a malta não achava.
Um dia cinzento de inverso (pedir o mês já é muito..), uma alminha ilmuninada entre nós descobriu, não sei como, que havia um estabelecimento manhoso, com gajas a dançar...nuas!!!

Extase entre a malta!!!

Paraíso, dizia ele, entra-se, vai-se para uma espécie de cabinas, poê-se umas moedas de 25 escudos e voilá, janela aberta e uma gaja a dançar...

Foi a primeira vez que ouvi falar do Bar 25....

O Bar 25..local de pecado nas rua das Portas de St.Antão, em Lisboa. A rua de Lisboa que mais adoro desde míudo. Versão oficial, tem a tasca que melhores febras e bifinhos do lombo serve com superbock, versão censurada, a rua onde vi uma mulher nua pela primeira vez....

É uma rua que só por si só, sem esta história privada de meia dúzia de míudos, vale papel e papel de histórias nele escritas. É a rua do Coliseu, é a rua do extinto cinema Politeama, distinto cinema reduzido, anos depois, a sala de projecção de filmes porno (assim como o Ódeon logo ao lado, onde muitas vezes fui com o meu pai ver filmes de "caubois"- nota do distinto narrador, sempre preferi os índios-), recuperado pelo Filile la Féria para as suas peças, a rua da Casa do Alentejo, linda, linda linda....a rua do restaurante "finesse" Gambrinus, onde 1/10 de um bife custa o preço da vaca toda, a rua da sede do meu Benfica, a Sociedade Portuguesa de Antropologia, rua do Mings Burguer, a casa onde se vendeu em Lisboa pela primeira vez hamburgueres como nós hoje os conhecemos, enfim.....a Rua da Portas de S.Antão!

Aí estava também o Bar 25, onde hoje está (acho, não tenha certeza...) uma cervejaria.

Hoje em dia, o sítio de que falo é algo de, vá lá, banal...tantos sítos de shows de strip e tal, mas é preciso retroceder aos anos que falo e à idade que tinhamos. Aquilo era uma loucura para a malta que ( como era o meu caso, mal pelos ainda tinha...).
O Bar 25 era um sítio à boa maneira antiga, onde, na minha opinião, ao contrário de hoje, até as coisas meio sórdidas tinham classe. Tinha uma tabacaria logo à entrada e depois um mar de cores vermelhas e contrastes claros e escuros até ao centro, onde estavam as cabines, pelo menos se não me falha muito a memória...

Esta descrição foi o resultado lógico de dias e dias de observação do exterior, pois, como é lógico, a malta não podia entrar....e nesses dias víamos entrar tanta malta distinta e bem composta. Jogadores da bola, malta com cara de político, empresários e claro, as senhoras do show...

Tinhhamos de arranjar maneira de entrar e o plano foi o seguinte: entre as 15h/16h30, o movimento era pouco e era nessa altura o momento ideal..fomos 6! O Humberto, o mais velho, coitado, enorme, parecia que tinha 20 e tal, burro que nem um calhau, sempre pensamos que ia estragar tudo. Ele devia ir comprar cigarros na tabacaria e nós passar por baixo quando a senhora virasse as costas....Além do Humberto, foi o Vitor "Maiden", por que na altura o que estava a dar eram os Iron Maiden e ele era o maior fã...o Strom (o jorge...), doido pelo benfica e pelo dinamarques que jogava no benfica, Stromberg..o Jorge "jó-jó penetra", o gajo que mais se infiltrava nas festas de anos para ver se arranajva lanche sem pagar e o Felipe "engomadinho", o gajo que aos 16 ja andava de camisinha e sapato para impressionar as miudas...

E assim foi, quando o Humberto pedia os marlboros ou o camel (era tabacaria fina, na altura só havia sg gigante e afins...) a malta entrou e correu que nem doidos para dentro de uma cabine..o Humberto, ainda menor mas com um cabedal que impunha respeito, tinha de certeza mais de 18, trocou dinheiro, as famosas moedas de 25 e la foi para a cabine onde a malta ria que nem uns perdidos....

e as moedas entraram..e a cortina abriu...e lá no fundo...lá estava ela!

e a malta riu, e a malta calou-se, e a malta voltou a rir...e ela dançava!
e a roupa foi caindo e a malta foi-se calando....e ela dançava!
e eu não ouvi mais nada, só vi aquela mulher loira, de cabelo curto, de corpo esbelto a dançar com roupas transparentes que caiam ao sabor dos seus movimentos que pareciam em câmara lenta.....

e as moedas acabaram, e a cortina fechou-se e o silêncio imperou.....

e a malta saiu a correr e aos berros, como guerreiros de palmo e meio que tinham conseguido uma vitória sobre um terrível inimigo, a rir, rir, perante o olhar de pânico de quem lá estava....tinhamos conseguido ver aquilo que toda a gente falava, uma mulher nua, nós, ...os putos!

e fomos para casa a pensar nela, e fomos crescendo, e este sempre foi um troféu de uns míudos que não sabiam no que se estavam a meter.....mas que importou?

ela dançava....!




14 Comments:

Blogger Amanda tatuou isto...

também tenho muitas saudades desses tempos, dos bailes que faziam lá no clube da zona, o pessoal agora acha careta, acha que não tem jeito nenhum uma sala com alguns projectores de várias cores, as paredes ainda em cimento, as músicas certinhas: 7 pop e 3 slow's (sim porque na altura chamavam-se slow's e não baladas)e quando o clima começava a aquecer...ui!!! doces, doces recordações de tempos de ingenuidade pura, nua e crua.... beijokas

9:42 da manhã  
Blogger mokomaori tatuou isto...

P/amanda: Os "slows"!!!!É verdade!!!AHAHA...agora é que fizeste rir mulher! As festas de anos nas garagens,a malta a decorar o ambiente com as luzes ,todos a ver se conseguiam dançar com a boazona do bairo! Tão giro....os grandes anos 80...beijo, 'brigado pela recordação...

11:17 da manhã  
Anonymous Anónimo tatuou isto...

Eu tenho saudades da inocência desses tempos onde tudo era tão novo! Vocês fizeram-me lembrar tempos antigos , sim porque eu também sou desse tempo. No meu caso cheguei a ir à discoteca ao domingo à tarde (aqui no Porto abriam aos domingos à tarde antigamente) e os slow´s eram a hora mais aguardada pelo pessoal e aquecia e de que maneira. Tempos porreiros esses.Até a descoberta de sensações novas que os nossos corpos transmitiam tornava tudo muito mais intenso não era?Beijo grande Mónica

2:15 da tarde  
Blogger mokomaori tatuou isto...

P/Monica:Não era só no Porto que as discos abriam aos domingos à tarde, aqui em Lisboa também..eram as famosas "matinés". Depois deixaram-se disso..os putos já saem a noite toda e embebedam-se e tudo o mais, com os papás a virem busca-los a porta da disco.
Claro que era mais intenso (porra, agora senti-me velho...a falar que antigamente é que era bom...), tudo era novidade, tudo era proibido...beijao.

2:56 da tarde  
Anonymous Anónimo tatuou isto...

Realmente os putos de hoje em dia não dão valor a nada , não da forma como nós dávamos. Tenho menos dois anos que tu e quando penso nos anos anteriores pareço uma velhota a falar neles. Mas a culpa não é minha , é do tempo e da vida que se alterou de forma drástica em tão pouco tempo. Por isso digo com um ar de satisfação "no meu tempo é que era...."Mónica

3:43 da tarde  
Blogger Amanda tatuou isto...

moko (permite-me sim?), eu sou do tempo em que... conheci um tipo numa festa dessas. Garagem ainda em cimento, faróis dos carros forrados com celofane de várias cores (não havia dinheiro p/mais), muita música, ainda mais slow's, alguma comida (não fazia grande falta), alguma bebida (nada de excessos), beijos (só nos lábios, p'ra começar)e... passados estes anos continuo a vê-lo todos os dias! o meu maridão!!! beijokas

4:01 da tarde  
Blogger mokomaori tatuou isto...

P/Monica: sábias palavras portuenses...como dizes, a vida acelerou e mudou mas eu não se sinto velho, e prefiro muito mais de facto os nossos dias.
o que me "irrita" nesta malta é o facilitismo com que chegam a determinadas coisas...inveja? não, mas sim uma preocupação com o facto de não aprenderem a dar valor a nada e serem os pais do futuro...tamos bem lixados!!!beijo.

ps. és uma menina do porto, cidade tão, tão bonita pela qual me apaixonei à anos...fixe!

4:09 da tarde  
Blogger mokomaori tatuou isto...

P/Amanda: que giro....!gajo com sorte portanto, assim como tu!Eu cá tive uma paixoneta por uma miuda mais velha (eu e as gajas mais velhas....), e num slow quis beija-la.deu-me um estalo, eu tinha 14, não percebia nada de aproximações ao sexo oposto (continuo a não perceber...)! nunca mais me atrevi...o que vale é que fui cruzando-me com miudas atrevidas, senão até hoje...obrigado por partilhares a tua história. beijinho

4:16 da tarde  
Blogger mokomaori tatuou isto...

P/amanda: que giro....! gajo de sorte portanto, assim com tu! tinha eu 14 anitos e arranjei uma paixoneta por uma moçoila mais velha (eu e as mulheres mais velhas....). quis beija-la e levei um estalo (nunca fui um grande entendido na arte da aproximação ao sexo oposto, alias...ainda hoje não o sou....). jurei para nunca mais e senão me tivesse cruzado com miudas atrevidas, até hoje a recordação dos slows dos 80 era...CHAPSZ e cinco dedos marcados na carinha quue deus me deu...obrigado por partilhares a tua historia, beijinho

4:24 da tarde  
Blogger mokomaori tatuou isto...

acho que os meus posts tao demorados....coloquei dois diferentes da mesma historia...sorry...

4:29 da tarde  
Blogger Aprendiz tatuou isto...

Afinal somos mesmo todos iguais... :-)))

8:22 da tarde  
Blogger mokomaori tatuou isto...

P/Mais interior: pelos vistos até somos....obrigado pela visita apartir da bonita covilhã..é uma zona que conheço razoavelmente bem, pois tenho família e passo férias ai bem perto, em Gonçalo, perto de Belmonte...conheces? Abraço.

10:33 da manhã  
Blogger Å®t Øf £övë tatuou isto...

Esta tua história,aliás muito bem narrada e que me prendeu a ler até ao fim,fez-me lembrar uma outra história...
Dá para ter saudades da juventude.....
Mas a culpa é nossa....
Em conversa com o irmão mais novo de um amigo, cheguei a uma triste conclusão. A juventude de hoje, na faixa que vai até aos 20 anos, está perdida. E está perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os que hoje rondam os trinta. O grande choque, entre outros nessa conversa, foi quando lhe falei no Tom Sawyer. "Quem? " , perguntou ele. Quem?! Ele não sabe quem é o Tom Sawyer! Meu Deus ... Como é que ele consegue viver com ele mesmo. A própria música: " Tu que andas sempre descalço, Tom Sawyer, junto ao rio a passear, Tom Sawyer, mil amigos deixarás, aqui e além... " era para ele como o hino senegalês cantado em mandarim.
Claro que depois dessa surpresa, ocorreu-me que provavelmente ele não conhece outros ícones da juventude de outrora. O D'Artacão, esse herói canídeo, que estava apaixonado por uma caniche; Galáctica, que acalentava os sonhos dos jovens, com as suas naves triangulares; O mítico Homem da Atlântida, com o Patrick Duffy e as suas membranas no meio dos dedos; A Super-Mulher, heroína que nos prendia à televisão só para a ver mudar de roupa (era às voltas, lembram-se?); O Barco do Amor, que apesar de agora reposto na Sic Radical, não é a mesma coisa. Naquela altura era actual ... E para acabar a lista, a mais clássica de todas as séries, e que marcou mais gente numa só geração: O Verão Azul. Ora bem, quem não conhece o Verão Azul merece morrer. Quem não chorou com a morte do velho Shanquete, não merece o ar que respira. Quem, meu Deus, não sabe assobiar a música do genérico, não anda cá a fazer nada.
Depois há toda uma série de situações pelas quais estes jovens não passaram, o que os torna fracos. Ele nunca subiu a uma árvore! E pior, nunca caiu de uma. É um mole. Ele não viveu a sua infância a sonhar que um dia ia ser duplo de cinema. Ele não se transformava num super-herói quando brincava com os amigos. Ele não fazia guerras de cartuchos, com os canudos que roubávamos nas obras e que depois personalizávamos. Aliás, para ele é inconcebível que se vá a uma obra.Ele nunca roubou chocolates no Pingo-Doce.
O Bate-pé para ele é marcar o ritmo de uma canção.
Confesso, senti-me velho ...
Esta juventude de hoje está a crescer à frente de um computador.
Tudo bem, por mim estão na boa, mas é que se houver uma situação de perigo real, em que tenham de fugir de algum sítio ou de alguma catástrofe, eles vão ficar à toa, à procura do comando da Playstation e a gritar pela Lara Croft. Óbvio, nunca caíram quando eram mais novos. Nunca fizeram feridas, nunca andaram a fazer corridas de bicicleta uns contra os outros. Hoje, se um miúdo cai, está pelo menos dois dias no hospital, a levar pontos e a fazer exames a possíveis infecções, e depois está dois meses em casa a fazer tratamento a uma doença que lhe descobriram por ter caído. Doenças com nomes tipo " Moleculum infanticus " , que não existiam antigamente. No meu tempo, se um gajo dava um malho (muitas vezes chamado de "terno" ) nem via se havia sangue, e se houvesse, não era nada que um bocado de terra espalhada por cima não estancasse. Eu hoje já nem vejo as mães virem à rua buscar os putos pelas orelhas, porque eles estavam a jogar à bola com os ténis novos. Um gajo na altura aprendia a viver com o perigo. Havia uma hipótese real de se entrar na droga, de se engravidar uma miúda com 14 anos, de apanharmos tétano num prego enferrujado, de se ser raptado quando se apanhava boleia para ir para a praia. E sabíamos viver com isso.
Não estamos cá? Não somos até a geração que possivelmente atinge objectivos maiores com menos idade? E ainda nos chamavam geração "rasca" ... Nós éramos mais a geração "à rasca" , isso sim. Sempre à rasca de dinheiro, sempre à rasca para passar de ano, sempre à rasca para entrar na universidade, sempre à rasca a ver se a namorada estava grávida, sempre à rasca para tirar a carta, para o pai emprestar o carro. Agora não falta nada aos putos.
Eu, para ter um mísero Spectrum 48K, tive que pedir à família toda para se juntar e para servir de prenda de anos e Natal, tudo junto. Hoje, ele é Playstation, PC, telemóvel, portátil, Gameboy, tudo. Claro, pede-se a um chavalo de 14 anos para dar uma volta de bicicleta e ele pergunta onde é que se mete a moeda, ou quantos bytes de RAM tem aquela versão da bicicleta.
Com tanta protecção que se quis dar à juventude de hoje, só se conseguiu que 8 em cada dez putos sejam cromos. Antes, só havia um cromo por turma. Era o tóto de óculos, que levava porrada de todos, que não podia jogar à bola e que não tinha namoradas. É certo que depois veio a ser líder de algum partido, ou gerente de alguma empresa de computadores, mas não curtiu nada.
Hoje, se um puto é normal, ou seja, não tem óculos, nem aparelho nos dentes, as miúdas andam atrás dele, anda de bicicleta e fica na rua até às dez da noite, os outros são proibidos de se dar com ele."
Bom fds.
Abraço.

10:15 da tarde  
Blogger mokomaori tatuou isto...

P/««Å®t_Øf_£övë»»: Obrigado pela visita e atenção a ler a história, não é para todos, não porque seja muito boa, mas porque é de uma altura específica e para uma malta de uma certa idade...No teu comentário acertas em tantas memórias, muito bom mesmo, desde as brincadeiras (a dos canudos foi fantastica...), ao spectrum (tive um timex 2048 e esperei 3 anos), o fantastico bate-pe, até as séries...obrigado, abraço.

11:54 da manhã  

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