Ravel e a escrita.....

Ao ritmo do som baixo mas em cadencia crescente que sai das colunas ambos descansamos....

Som este que á pouco atingiu o seu auge ao mesmo tempo que explodiamos um no outro, agora calmo ele nos relaxa....música do demo esta, que começa tão suave e inocente e lentamente nos desperta este desejo animal de nos perdermos um no outro..para depois forçar a que abraços de carinho nos envolvam como um só, bem quietos......

Aqui estamos...a olhar para o tecto, envoltos em lençois que calmamente vao absorvendo nosso suor...e eu gosto de aqui estar, apenas com meu pé esquerdo enrolado no teu pé direito, tão cumplices que eles e nós somos....

Quando decides voltar tua barriga que tanto já beijei para baixo, tu fá-lo com um sorriso diferente, tens um brilho novo nos olhos...e eu sei que não é por deixares de propósito uma nádega descoberta ao meu olhar.....-“quero escrever....” – dizes – “quero aqui, agora, deixar linhas nas minhas folhas brancas....e quero escrever a meias contigo.” , “isto é novo” – penso para mim, ao mesmo tempo que te olho meio corpo desnudado pelos lençois....(curioso..excita-me mais imaginar o que está tapado do que aquilo que vejo...)....sempe soube que escreves, e conheço alguma coisa do que que escreves...umas gosto, outras nem por isso...assim como sabia que tens um livrinho branco...nunca pensei que mo revelasses....muito menos que te visse a nele escrever...muito menos ainda tal ousadia...eu, a desenhar os meus pensamentos no teu livro, nas tuas folhas.... – “sim” – respondo – “escreve com a tua caneta, eu escrevo com a minha”.

Chegámos a acordo, vamos começar.....

Começas....barriga para baixo, livro na almofada, és destra...estas meia despenteada, rosada na face.....eu a teu lado, deitado de lado, cabeça na almofada, olho para ti...continuamos nús e vejo o desenho das tuas costas agora ligeiramente arqueadas para puderes escrever...nao te vejo os seios, apenas o local onde eles se juntam à tua barriga, escolheste bem como deixar cair o lençol....vejo como tuas nadegas se desenvolvem apartir das costas, nada mais alem vejo alem dos pés....eu? gosto de apoiar a cabeça na almofada com braço por baixo dobrado..deixo meu peito descoberto...o lençol em mim? Apenas nas ancas, mostrando o inicio de meus cabelos de baixo...estive tentado a me mostrar todo..mas sei que uma mulher com a cabeça obstinada e realmente entusiasmada com algo dificilmente se distrai.....

Começaste e páras.... - ” tua vez....continua onde deixei...” – e assim largaste paginas de tinta azul permanente, com uma caligrafia....suave.... para eu as continuar com minha letra negra de caneta bic, letra agressiva feita pela minha maõ esquerda mas desenhada segundo dizem.....
Mudamos de posiçao, agora eu me comprimo a mim e meu sexo contra lençois e colchao e tu de lado para mim estas.....nao es nada pudica, toda te exibes para mim...sei que me testas...sei que queres saber se estares assim me leva a levar aquilo que escreveste para sexo, para erotismo...quem sabe, até amor....devias saber que um homem com a cabeça obstinada e realmente entusiasmado com algo pode nao conseguir evitar uma erecçao, mas tb nao se distrai la muito...

Com tinta negra tua história segui, tua história desenvolvi....e este sentimento de constante e crescente entusiasmo é avassalador.....em ambos....querer saber se se está a seguir o caminho que se devia seguir, se no papel colocamos as palavras certas..se na nossa cabeça o enredo que se produz segue aquele que nos foi apresentado.......opçoes, pormenores, sera que digo, sera que nao digo....sera que posso, sera que é isto que se espera, se anseia de mim....estarei eu a altura do desafio....nao quero decepcionar, nao quero falhar.....curioso como simples linhas num papel, simples decisoes num jogo de amantes, se tornam tao semelhantes com a vida real.....

Com certezas sigo, pelo menos, de ter feito o que sabia...e assim continuamos.. umas vezes sente-se a satisfação de se ter lido exactamente aquilo que se pretendia ler..as vezes ha narizes que se torcem, ou olhos que se frazem, ou um mexer no cabelo, ou um morder da caneta que indiciam que nao era nada por ai....mas faz parte do jogo...com satisfação escrevo ao mesmo tempo que gosto de sentir tuas caricias, teus dedos leves e suaves na minha pele marcada, com prazer a olhar para ti fico a tentar apanhar no ar tuas reacções ao que escrevo, com gosto deixo meus dedos passarem também ao de leve por tuas coxas..ansiosamente à espera daquilo que me deixas para continuar....

Deixo o final a teu cargo...tua ideia, tua historia, teu livro, teu fim.

Relemos a historia em conjunto...rimos, excitamo-nos, contrariamo-nos, discutimos, achamos que sim, achamos que nao...mas adoramo-nos por termos feito o que fizemos....e dormimos.



Alguém disse que o “Bolero” de Ravel era a melhor música de sempre para fazer amor.....muito provavelmente estou de acordo...mas esse alguém devia também experimentar escrever a ouvi-la.....